História da Hemofilia

História da Hemofilia

As primeiras referências sobre a Hemofilia humana são do século III DC, descritas nos escritos judaicos – TALMUD.

O Rabino Judah, o Patriarca, dispensa o 3º filho de uma mulher da circuncisão e o Rabino Simon Bem Gamaliel proibiu a circuncisão num menino, porque os filhos de três irmãs mais velhas de sua mãe morreram após a mesma (Rothschild, 1.882; Bulleck e Fildes 1.911).

 

Rabino Judah II

Existem várias referências judaicas posteriores sobre o assunto e esses casos de hemorragia fatal, após pequenas cirurgias em irmãos ou primos homens maternalmente relacionados, são característicos da Hemofilia – Rabino Judah II.

Séc. X: homens de uma certa aldeia que sangravam até a morte após pequenos ferimentos, foram descritos por Khalaf ibn Abbas entre nós, conhecido como Albucasis.

Séc. XII: Maimenides aplicou a decisão rabínica aos filhos de uma mulher casada pela 2ª vez; e através dos anos, há outros registros de problemas hemorrágicos que mais ou menos se ajustam ao quadro clínico da Hemofilia. As primeiras descrições que podemos aceitar como provavelmente serem relativas à Hemofilia, são do fim do século XVIII.

1.791: Família Zoll – seis irmãos sofreram hemorragias fatais após pequenos ferimentos, mas irmãos, filhos de outra mãe não foram afetados.

1.793: Família Consbruch – um homem e dois filhos de sua irmã foram afetados. também era hemofílico

1.803: Otto – notou que embora somente os homens mostrassem sintomas, a irregularidade era transmitida por mulheres não afetadas e alguns dos seus filhos. Os atingidos eram chamados “sangradores”. Otto estudou sua árvore genealógica e encontrou casos entre 1.720 e 1.730.

1.820: foi feito por Nasse um exame completo da literatura e um claro enunciado do singular modo de herança.

1.828: até esta data, tal síndrome clínica teve várias nomes, mas o tratado de Hopff traz como título um estranho nome – “Hemofilia” – que significa “AMOR AO SANGUE”.

1840: A 1ª transfusão de sangue é realizada, em Londres, por Dr. Samuel Lane, devido à uma hemorragia pós-operatória, em uma criança hemofílica

Hemofilia Real.

Rainha Vitória (1.819 – 1.901) – foi rainha da Inglaterra no período de 1.837 a 1.901.

A rainha Vitória teve nove filhos; entre eles um hemofílico e duas portadoras. Estas se casaram e transmitiram a três de seus netos e seis bisnetos.

Rainha Vitória

Entre os descendentes, o que ficou mais famoso historicamente foi o filho de Nicolas Romanoff da Rússia e Alexandra (neta de Vitória); seu nome era Alexis (1.904 – 1.918) e foi assassinado junto com a família real durante a Revolução Comunista. Pierre Gilliard, tutor de Alexis escreveu “A doença do Czarevitch lançou uma sombra sobre todo o período final do reinado de Nicolas II, e só por si pode explicá-la. A Hemofilia pode ter sido uma das principais causas da queda de Nicolas II, pois ela tornou possível o fenômeno Rasputin que resultou num isolamento fatal para os soberanos que viviam num mundo à parte, totalmente absorvidos numa ansiedade que devia ser ocultada”.

Nicolas Romanoff Alexis Alexis, o último herdeiro do trono russo Rasputin

Os historiadores discutem a contribuição da Hemofilia de Alexis na política russa, mas a tensão sobre a Hemofilia real foi evidente.O caso da Hemofilia na Família Romanoff conhecida pelo livro “Nicolas e Alexandra” de R.K. Massie (1.968) que foi transformado em filme pela Columbia Pictures.Outros descendentes da Rainha Vitória, que se casaram com outras famílias reais, disseminaram a Hemofilia pelas casas reais européias, como Espanha e Inglaterra.

1.855: Grandidier apresentou uma monografia sobre Hemofilia. Vinte anos mais tarde surgiram autorizados trabalhos de Logg (1.872 – Inglaterra) e Imwersann (1.879 – Alemanha).

1.886: foi descrita pela primeira vez a rara ocorrência da Hemofilia em mulheres por sir Frederick Treves, de um casamento entre primos de 1º grau.

1.890: pela primeira vez foi descrito detalhadamente por Köning, o envolvimento das articulações. . .

1911: Bulleck e Fildes fizeram a mais monumental monografia sobre Hemofilia – um trabalho crítico de quase mil referências e relatórios de casos e mais de duzentas árvores genealógicas, distinguindo casos de Hemofilia por sexo, sintomas e hereditariedade de numerosos outros casos inexplicáveis de hemorragias.

Embora um século os separe do trabalho de Otto, eles sustentaram a teoria de que a Hemofilia só podia ser transmitida pela fêmea. Evidentemente, poucos machos afetados viviam até a idade produtiva.

Outras referências sobre Hemofilia

No início do ano de 1900, haviam muitos pesquisadores estudando o princípio da hemorragia. Sabia-se até então, que a hemorragia em Hemofilia era devida a uma alteração no processo de coagulação do sangue. Outros, no entanto, continuaram tentando diferentes métodos para tratar a Hemofilia.

Em 1901, o Livro de Referência dos Cirurgiões Gerais dos Estados Unidos publicou uma lista de tratamentos usados em Hemofilia, gás puro de oxigênio ou glândula tireóide; medula óssea; água oxigenada ou gelatina. Por volta de 1926, a lista cresceu, incluindo: extirpação do baço, administrando transfusões sangüíneas e injetando citrato de sódio, cálcio, ou diferentes componentes líquidos do corpo, incluindo alguns líquidos da mãe. A edição seguinte deste livro inclui aplicações de músculos de pássaros, vitamina e terapia de raios X, administração de hormônios femininos e extrato de clara de ovo e simultaneamente injetando e extraindo sangue.

Ainda no princípio do ano de 1900, a maioria dos hemofílicos, tinha uma vida curta e muito difícil apesar da variedade de tratamentos, porém, a partir de 1930, as pesquisas progrediram mais rapidamente.

Em 1934, o Professor Hamilton Hartridge descobriu que determinados venenos de cobra faziam o sangue coagular. Para se aprofundar no assunto, ele e R. G. MacFarlane foram ao zoológico e obtiveram amostras de veneno de mais de 20 cobras. Os espécimes foram testados e eles descobriram que certo tipo de veneno se prestava melhor à utilização. O veneno passou por um processo de atenuação e o produto foi aplicado em forma de compressa na boca do hemofílico que acabara de ter um dente extraído. A hemorragia parou. Embora o veneno de cobra tivesse conseguido estancar o sangue em uma ferida superficial, seria por demais perigoso usá-lo em hemorragias internas, estas eram mais graves.

1952 – Dra. Rosemary Biggs e colegas (Oxford/UK), descobriram a falta do fator IX, denominado Christmas – nome do primeiro paciente diagnosticado.

Naquela ocasião, muitos médicos e enfermeiras já aplicavam transfusões de sangue. Além disso, as pessoas estavam começando a entender melhor a composição do sangue. O plasma é a parte líquida e contém vários tipos de proteínas. Algumas destas proteínas são os fatores de coagulação, incluindo o Fator VIII e Fator IX. Pouco tardou para se tornar viável a separação do plasma dos outros componentes sanguíneos, permitindo assim um estudo mais aprofundado a respeito. O Fator VIII é apenas um dos vários componentes do plasma, de modo que é preciso uma grande quantidade de plasma para dar aos hemofílicos todo o Fator VIII de que precisam. Isto sempre constituiu um grande problema porque nenhum organismo pode tolerar quantidade extra de plasma tão grande.

Até nossos dias, ouve-se dizer que a Hemofilia é “doença de reis”; importante enfatizar que ela aconteceu também com reis.

O Professor Bulleck estudou meticulosamente o caminho do gene da Rainha Vitória, causador da Hemofilia nas casas reais européias.

À partir de 1.960, surgiram alguns trabalhos científicos acrescentando dados novos, mas apenas nos últimos cinqüenta anos é que tivemos realmente trabalhos científicos que apresentam formas de intervenção no tratamento da Hemofilia.

Judith Pool

1.965: Judith Pool (USA) apresentou o procedimento de obtenção do “crioprecipitado” à partir do plasma fresco, que é utilizado até hoje para fornecer globulina anti-hemofílica.

Finalmente, temos os concentrados purificados de fator VIII e IX, utilizados atualmente, que surgiram com base no trabalho da Dra. Judith Pool.

Ao observar uma porção de plasma congelado em processo de degelo, Dra. Pool verificou que pequeninos flocos estavam sedimentados no fundo da bolsa. Estes flocos foram analisados e detectou-se que continham uma grande quantidade de Fator VIII recebendo o nome de crioprecipitado. “Crio” significa frio; “precipitado” significa algo que fica sedimentado. Assim, surgiu uma técnica para isolar o Fator VIII do plasma humano: do plasma congelado, isola-se o crioprecipitado/globulina anti hemofílica. A descoberta do crioprecipitado foi muito importante para a Hemofilia.

Os hemofílicos normalmente se dirigiam a bancos de sangue quando apresentavam episódios hemorrágicos. Entretanto, os cientistas fizeram uma outra descoberta que veio mudar este procedimento. Descobriram uma maneira de transformar o Fator VIII em pó, chamado concentrado de Fator VIII Humano. Este tratamento é utilizado até os dias de hoje.

1966 – Neste ano foi comercializado nos Estados Unidos da América o primeiro concentrado de Fator VIII – anti-hemofilico.

1970 – Surgem os primeiros concentrados purificados de Fator VIII e IX, os quais passam a ser utilizados em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos da América as equipes médicas de atenção ao hemofílico iniciam o conceito de TERAPIA DOMICILIAR

Final dos anos 70 – Como conseqüência das graves complicações no sangue por intermédio das contaminações virais, este período marcou o inicio das pesquisas pela melhoria das técnicas de produção dos fatores de coagulação.

Inicio dos anos 80 – Introdução de técnicas de inativação viral nos concentrado de fator. Após a constatação da epidemia da AIDS, sofisticadas técnicas de eliminação e inativação viral foram desenvolvidas, buscando oferecer alto nível de segurança aos hemoderivados.

Final dos anos 80 – Surgem produtos com inativação viral pelo tratamento com solvente/ detergente, purificado pela tecnologia de anticorpos monoclonais.

Anos 90 – Caracterizam-se pelo desenvolvimento de pesquisa em torno da Engenharia Genética. Surgem os primeiro estudos clínicos em humanos, utilizando concentrado de fator recombinante com tecnologia de DNA.
Introdução no mercado de concentrado de fator VIII e IX recombinantes (produtos que não utilizam plasma humano como matéria prima- isentos de contaminação viral).

Anos atuais – Os produtos recombinantes também foram se sofisticando e utilizando novas tecnologias na busca de, cada vez mais, atingir um maior nível de segurança reduzindo significativamente os riscos de contaminação viral e escassez do produto.
Hoje em dia, são 3 as propostas possíveis de tratamento para a pessoa com hemofilia:

Os produtos de origem plasmática, extraídos do plasma humano e depois purificados por métodos melhorados para garantir o melhor nível de segurança possível.
Produtos recombinantes obtidos pela engenharia genética contendo ainda componentes de origem sanguínea (humana ou animal) na sua concepção.
Os produtos recombinantes de última geração produzidos através da engenharia genética e que já não contêm vestígio algum de derivados sanguíneos (humano ou animal).